sábado, 22 de julho de 2017

Marron, ausência

Havia uma estrada marrom, marrom, a cor, quer dizer, dizem que é uma cor, mas ela misturada a essa estrada, não passa de uma ausência; É como se toda vida tivesse sido sugada de repente, como se todas as memórias tivessem derretido e se tornado poeira, a poeira marrom que cobria tudo que estava ali.
Árvores enfileiradas na costa da estrada, poderia ser um cenário belo, para muitos que passaram ali, mas hoje são quase como uma trilha sonora, mas sem som.
Dezenas de quilômetros mortos, como se o tempo tivesse parado,  ou será que é como ele tivesse acelerado absurdamente, a ponto de nada mais existir¿
Há uma bifurcação em um ponto, onde o asfalto coberto pelo tempo, pelo marrom, pela ausência, tende a continuar, mas o caminho que me chama, tem somente terra, pura, marrom.
Ao olhar pra esse, um sentimento de esperança, mínima, tende a cair sobre mim, parece que mesmo, tudo estando morto, parado, não há vento, não há som, não há nada. Mesmo assim a terra me da à impressão de eu ter a chance de uma nova escolha.
Abandono à estrada de asfalto morto, e sigo meu caminho em meio á arvores mortas em uma estrada mais viva, quem sabe aqui eu me encontre.



quinta-feira, 11 de maio de 2017

Penumbra

Na penumbra da noite, solitário,
sinto como se não fosse haver um amanhã,
sinto como se tudo rodopiasse diante de mim,
Não há estrelas,
não há beleza,
a única coisa que vejo que pode,
por algum segundo,
aspirar paz, é uma lua minguante,
no meio de incontáveis nuvens.
Mas essa lua não é bela, ao contrário,
sinto estourar de dentro de mim,
sentimentos sombrios, e tristes.
A lua se foi, e o que ficou,
foram somente as coisas que estavam ao meu redor,
ou, a falta delas. 
Reviro sozinho, nos lençóis que um dia cobriram uma vida,
e hoje, cobrem apenas uma alma quebrada,
tentando se reconstruir em meio a construções imensas
na imensidade da metrópole que um dia chamei de casa.
Mas meu lugar não é aqui, não é lá.
Meu lugar é na estrada, com pés cansados e dormência no corpo,
mão trêmulas no que muitos chamam de guidão, mas eu, chamo de extensão.
Extensão do meu ser, uma parte de mim,
a estrada fica pra trás cada vez mais rápida
e o tempo para, minha percepção de espaço tempo se altera.
Tudo flutua ao meu redor,
sou único,
sou forte,
sou o meu Deus,
sou minha jornada,
sou Universo,
sou a manifestação das leis da física que regem o todo.
Sou a toda poderosa força da aceleração,
num limbo, me encontro onde me perdi,
me perdendo constantemente,

para nunca deixar de me encontrar.

Desfecho

Se tornam estranhos
os laços que se amarram,
por entre paredes e desfiladeiros,
por entre tormentos e deleites,
laços se tornam fracos,
o fio que antes os segurava,
tinha sua indubitável força do aço,
agora não é mais que a corda gasta de uma nau velha,
o tempo se foi e o tempo está,
aqui,
correndo em minhas veias
como o vento frio do oeste,
correndo por aqui
como o destilar dos cintilhões de alcântaras,
do esfriar das estrelas e
a explosão da anã branca.
Ai lá está, no interno interior de uma paixão falha,
de uma elucidação do querer,
o vazio no limbo do esquecimento
já diz o que quer falar,
ou não diz,
não deixa,
não sai,
fica,
perpetuando emoções,
estilhaços de vidas,
fragmentos de memórias,
que foram engolidas por lapsos de momentos.
Desfecho,
despedida,
lembrança.

Adeus.

O Sol da meia noite

O sol da meia noite vem,
Como se não houvesse amanhã
Transformar tudo que sei
Que é, em mentiras.

Leva pra longe
Pra bem longe
Tudo que se move em círculos
O sol, um dia vai chegar
O sol vai ficar, no céu
A meia noite
Levando tudo, tudo
Pra bem longe

O universo, o céu, as estrelas.
Somente os pássaros vão ficar
Sem medo algum de voar
Somente eles ficarão
E naturalmente
Vão voar,
Águias e corvos, juntos.

Em direção ao sol
Vou sozinho
Pra sempre, em uma eterna busca
De tudo que há em mim.

O sol da meia noite vai soar
Como soam os monges
Cantando mantras em seus templos
O som vai soar em minha mente
E baterei minhas asas
Que surgirão
Junto com as aves
As únicas que restaram

E juntos vamos voar
Em direção
Ao único centro de luz do universo
O único sol
A única vida

O sol da meia noite.

Somente ele vai restar. 

Imensidões

Estou perdido em lamentações, em memórias, em meu próprio eu.
Morro a cada dia, a cada hora, a cada segundo.
Minha mente se estilhaça na ausência,
meu coração fica mais gelado a cada trago de cigarro na janela.
Imensidões parecem centímetros,
e esse centímetro,
me parece estar perdido em um vasto oceano.
Encontros e desencontros reais,
marcaram o que será.
Não apertarei o gatilho,
porque por enquanto,
ainda chega a ser bom quando durmo.
Acordar chega a ser triste.
Tenho tudo, e me falta tão pouco.
Tenho a mim.
Em pensamentos,
Sonhos,
Lembranças.

Migalhas. 

Rosa trama

                  Beijar é calar a trama.
É inventar. 
Reinventar
Arquitetar

Com sua coroa de flores,
Leve
Sente passar os dias
Rasos

Como uma rosa, no pleno toque da boca
Que Surge solitária
Ao centro De um planalto vazio
Como  fosse em qualquer lugar
Dentro de sua paixão arbitrária
Afugentando o lado hostil

Arquitetando
Reinventando
Inventando

Sendo assim
Não necessito dizer nada
Como se fosse urgente e preciso
Qualquer maneira de amar, varia
Continuo meu roteiro de silêncio
Minha triste vida de poesia.